sexta-feira, março 13, 2009

"INTACTA" na Sociedade Portuguesa de Autores - Lisboa

"INTACTA" na SPA.

5ª feira, 5 de Março de 2009 pelas 18,30h. 
Sociedade Portuguesa de Autores - Auditório Frederico de Freitas - Lisboa.
A convite da SPA e inserido no Ciclo "O Dramaturgo e a Prática Teatral", (ciclos dirigidos pelo dramaturgo Jaime Salazar Sampaio), fez-se cena no palco com a apresentação do espectáculo "Intacta".
"Intacta" é uma proposta de artes cénicas com texto, música e direcção de Teixeira Moita, representação e dança de Fabíola Fernandes, assistência e produção de Carlos Pinto Vinagre.
A ideia foi-me proposta por Alberto Augusto Miranda, para apresentar num dos seus famosos "filo-cafés" a apresentar no Porto. O tema seria "Salvação e Justiça".
Há já algum tempo, após participar num encontro nacional de Dança e Performance, e depois uma troca de ideias com alguns dos nossos melhores como Vera Mantero e Joclécio Azevedo, senti que o caminho das artes performativas teria de se escorar ainda mais na Dramaturgia. Posso arriscar que a Dança precisa cada vez mais de se socorrer da Dramaturgia para que os espectáculos não se fiquem apenas pela "Narrativa do Gesto", chamemos-lhe.
Convidei Fabíola Fernandes para trabalhar no projecto (aqui, sim a a palavra adequa-se). Fabíola é uma jovem estudante de Belas-artes, com vasta formação em Dança e Música e participante em peças de Teatro. Pareceu-me a pessoa ideal para incarnar a personagem e ajudar-me a concretizar as ideias bizarras que me saltavam no horizonte.
Juntou-se também outro jovem: Carlos Pinto Vinagre, estudante de Direito, activista, escritor e pensador.
Não me vou alongar nesta nota tentando explicar as bases estéticas e teóricas daquilo que pretendi por em palco. Apenas direi que a ideia-base era colocar em palco uma peça (aparentemente) de Teatro, com a Dramaturgia perfeitamente fixada e com um mínimo de encenação, mas completar o espectáculo com contribuições outras de expressões artísticas diferentes. Ou seja: juntar no mesmo palco Música, Teatro, Dança, Mímica, e Pintura, sem que uma seja ilustrativa da outra nem que existisse uma ligação formal e intrínseca com o texto. Fazer isto como? Sem que parecesse uma "salgalhada"? E para quê? Para ser diferente apenas? Para "inovar" ("inovar" parece agora a palavra de deus). Ser diferente porque creio que a Arte não se pode atrasar em relação ao Mundo. Tem de conseguir reter a poeira das coisas e entregar às gerações futuras o testemunho dos dias. Não me parece que as artes performativas estejam a cumprir o seu papel motor presentemente. Ou existe o Teatro convencional, ou temos a Dança com a poesia dos gestos, ou as chamadas "performances", que estão a meio-termo entre o "happening" e tudo o que tenha a ver com as artes circenses.
Aqui, achei que poderia intrometer-me. Arrogando-me de uma necessidade de utopia, lancei-me nesta proposta e tive companheiros.
Com o extremo talento e graciosidade de Fabíola conseguiu-se na SPA e no Porto, e perdoem-me uma certa cegueira de pai-babado, algo que pareceu fascinar o público presente na sala. 
Estávamos perante uma proposta cénica que saía de todas as convenções do Teatro antigo e contemporâneo e mostrava-se em palco uma proposta que não suscitou rejeição, mas, ao mesmo tempo como que "interpelou" as pessoas que ficaram "órfãs" de uma estrutura a qual se habituaram a identificar e interpretar.
Após a apresentação, tentei expor as minhas concepções e conceitos preparando-me para o "comício" habitual, pois nestes encontros são raras as intervenções do público e eu tinha de preencher o espaço de debate. No entanto, algo de fantástico e gratificante aconteceu: o público pareceu gostar bastante da apresentação mas queria explicações. Direi mais: exigiu que eu, a Fabíola e o Carlos "justificássemos" a nossa proposta e o debate (impulsionado pela guionista Isabel Costa e pela pintora Alice Valente, entre outros) como que explodiu. Foi um debate tão vivo e desafiador que se prolongou muito para além da hora de fecho das instalações da SPA e os organizadores tiveram que por o público na "rua"! E para "acalmar" as pessoas, a SPA como que sentiu necessidade de que se repetisse a apresentação de "Intacta" no próximo mês e continuar o debate!
Perdoem-me os pontos de exclamação, que tornam este texto mais parecido com um poema do Futurismo. Como artista, conseguir suscitar tal comoção num público culto como aquele presente naquele dia, realiza-me e conforta-me mais do que qualquer vénia elogiosa perante o meu trabalho. Creio que o maior objectivo de um artista é o de suscitar mais Arte. Graças ao talento de Fabíola Fernandes e Carlos Pinto Vinagre, e ainda mais um pouco de loucura e utopia de minha parte, aquele fim de tarde foi diferente. Apenas para ser diferente? Seria pouco: ser diferente, sim, mas porque havia a necessidade de algo diferente.
Agradeço ao Orfeão do Porto, ao Lourenço dos "Templários do Rock", à Fabíola e ao Carlos. Agradeço, também ao Jaime Salazar Sampaio e à Susana Augusto da SPA, toda a sua disponibilidade.
Até breve.
Teixeira Moita

3 comentários:

LM,paris disse...

caro amigo,
cheguei aqui pelas artes surrealistas do miguel.
Li com grande interesse o seu post da co-participaçao das artes num palco.
Compreendi que aconteceu num palco, mas precisamente hoje com tantas dificuldades de ai chegar...
nao vou entrar em detalhes...jà começei hà uns anos a intervir igualmente em espaços diferentes, como os Halls de théatre...é uma experiência dificil.
Estou de acordo consigo em alimentar algumas peças perfomativas com mais dramaturgia, mas quanto à dança, hà formas espaços e fundos...interioridades, surfaces que se podem criar no movimento, ou numa dança interior, menos " explicativa"...
sem nenhuma ligaçao com a teatralidade.
o casamento das artes deixando-as
" solteiras" e bem dispostas , cada uma por si, isto é nao fundirem mas riscarem_se,faiscarem-se...
acariciando e abismando por vezes o perigo, arriscando, SEMPRE.
Boa continuaçao, passe pelos meus blogues que sao dedicados à escrita bilingua, ao teatro, dança, artes plàsticas, foto....isso.
Abraço de Paris,
LM
lidia martinez

Unknown disse...

Obrigado pelas suas amáveis palavras. Claro que todos nós não andamos a fazer tudo isto sozinhos...

LM,paris disse...

Olà!
Sim, claro jà me lembro, concerteza, força e bom trabalho , é preciso avançar com as coisas e o sonho é sempre um real comum, se nos dermos um pouco de tempo e refexao ao trabalho dos outros, às experiências
nas diferentes artes!!!!
Um abraço,
LM
lidia